sexta-feira, 29 de junho de 2007

Linchamentos: primeiro seminário

A Unidade de Diagnóstico Social do Centro de Estudos Africanos prepara o primeiro seminário de apresentação de resultados preliminares da pesquisa que realiza sobre linchamentos na cidade de Maputo.
O seminário deverá realizar-se no dia 18 de Julho, em hora e local a indicar brevemente.
Após um segundo seminário, o terceiro e último realizar-se-á em Novembro, com a presença da investigadora brasileira Jacqueline Signoretto.

2 Comentários:

Às 7 de julho de 2007 às 10:32 , Blogger ahunguana disse...

Do texto “Linchamentos nas zonas suburbanas de Maputo” Teles Huo e Valerito Pachinuapa
Comentário de Augusto A. M. Da Silva Hunguana
Para abordar este tema que os ilustres autores tiveram audácia em tocar, irei comentar em forma de quem vai contra o vento para melhor perceber o impacto dessa forca contraria.
Em meu entender o linchamento é um procedimento que vários segmentos de diferentes sociedades usam para melhor defenderem o único bem que adquirem de forma involuntária no mundo terreno, falo da vida. Por aqui pretendo dizer que a maioria das vezes é difícil qualificar como um evento do mal ou do bem, mas certamente que possamos concordar que nunca pode ser encarado como alternativa ideal de justice social, pelo menos em teoria, senão vejamos:
1. Os autores afirmam que “os linchamentos ocorrem, principalmente nos bairros T3, Magoanine, Zimpeto, Ferroviário, Mahotas, entre outros. O dominador comum é o facto de se tratar de bairros populares, populosos e suburbanos da Cidade de Maputo … “. No meu modesto entender o que esta em jogo é a distancia que cada agregado familiar dista do outro , ou seja é quase nula, fazendo com que estas pessoas passem por situações onde o juízo ou interpretação dos vários eventos ou preocupações sociais passem a ser feitos em grupo e não de forma individual (família a família) e são pessoas que geralmente tentam resolver os problemas por meios mais rápidos e curtos e nem procurarem entender as razoes que sustentam a frequência intensiva dos mesmos eventos. Contribui ainda, o facto de, na maioria das vezes os níveis de escolaridade não serem aceitáveis para uma sociedade que se desenvolve a passos muito largos e exige dos mesmos uma convivência muito cívica e moderna sem no entanto criar melhores mecanismos de controle dos efeitos negativos desse desenvolvimento, falo do por exemplo, dos problemas oriundos do desemprego levando muitas vezes as pessoas a refugiarem-se em actividades ilícitas e com a conivência de quem devia controlar e banir tais práticas.


2. Ë referido ainda pelos autores o factor de baixa renda. Em que medida, pergunto eu? Este factor isolado não pode ser considerando como variável de grande importância. Nas situações onde a população (com baixa renda) vivam não muito próximas umas das outras a cumplicidade nestes actos diminui, perdendo assim a força significativa desta variável levantada pelos autores.
3. Embora os linchamentos sejam moralmente maus como afirmam os autores, eu perguntaria, maus para quem? E ai pode surgir uma outra questão, os resultados dos linchamentos são sempre maus? Se não, então em que medida é que eles podem ser considerados maus? Para mim o mau é o evento que começa e termina não bem, bem poderemos discutir mais tarde. Aliado a isto surge o problema dos autores: por que razão as pessoas lincham outras pessoas? E também nasce o meu: O que as pessoas ganham linchando as outras pessoas? Hum, parece que vamos por caminhos diferentes para o mesmo destino. A desvantagem do primeiro caminho é que se discute muito e acaba-se ocultando muitas verdades porque estamos preocupados em encontrar o ideal. A desvantagem do segundo é que corremos o risco de parecer que legitimamos um mal, mas acabamos sendo práticos e frontais e não éticos. Para empolgar mais a discussão perguntaria ainda, será o linchamento uma manifestação para repor ordem popular? A que crime classificaríamos o linchamento? Algo qualquer parecido ao que nos conduz a legitima defesa? Ou a falta de alguma coisa mais séria como confiança na justica ou de quem devia impor a justice? Hum, complicado responder a tantas questões.
4. O linchamento sob ponto vista de acção psicológica, deve ser visto como método usado pelas pessoas para salvaguardar as suas vidas garantindo assim que a vitima passe a não existir fisicamente e desapareça a ameaça ou o evento que põe em causa a vida. E na maioria das vezes o linchamento é uma acção consciente, premeditada e prevista embora não reflectida, porque quem lincha esta consciente que a vida não retorna, o caminho da morte é irreversível. O linchamento é mau no inicio mas trás o bem o social para as pessoas. O que prova ainda que é um acto consciente é que geralmente estas acções tem o seu tempo e só se manifestam em estados em que as pessoas apresentam uma saturação ou não visão de soluções para os males causados pelos linchados. Existem os que sempre estão na posição de vanguarda os supostos agitadores e são na maioria das vezes invisíveis, quer dizer pressionam ao alto para as pessoas tensas e saturadas psicologicamente como se de terapeutas fossem. Estas parecem agir mas no entanto apenas mostram vontade e poucas vezes tem coragem. Os corajosos são os que na maioria das vezes constituem minoria no entanto, são os mais frustrados da vida e por vezes tem um nível de vida semelhante aos linchados.
5. Há que também referir que as instituições que deveriam equilibrar a justiça e a vivência social entre as pessoas, quando são ausentes em acções ou intervenções para evitar estes actos também deveriam ser consideradas como cúmplices nos linchamentos, falo concretamente nos pólos de protecção (policia, procuradoria...), correcção (cadeias...) e também dos que criam todos os dispositivos que norteiam ou regram uma sociedade (governo e legisladores). O que faz alguém não levar por exemplo um prevaricador a esquadra? Ou mesmo a processar em tribunal? As prováveis respostas agregam-se também os possíveis cúmplices dos linchamentos. Ao meu ver o objectivo de quem lincha em T3 é semelhante ao que também faz o mesmo no Brasil ou outro pais, procurar conforto psicológico de segurança, LIVRAR DO MAL. A justiça popular é mais dura porque muitas vezes não mostra justiça nem mostra critérios, mais é eficiente em mostrar resultados, e é isso que as pessoas querem, não o bonito mais o útil. Então é necessário que a justice formal seja mais convincente, rápida e afaste ou isole cada vez mais o mal para muito longe das pessoas.
6. Assim sendo, se permitem, vamos partir para uma discussão onde não vejamos o linchamento como um mal, mas como a possibilidade de eliminação de um mal, se assim aceitarmos, estaremos em melhores condições de entendermos o fenómeno e substituiremos este método por um que seja mais prático, cívico, responsável aceitável por grande parte dos vários estratos sociais. Comecemos a discutir em função destas duas abordagens, não escolhamos nem caminhemos todos pelo mesmo caminho que cairemos todos e não haverá ninguém para nos levantar. Eu me voluntário para andar contra o vento. Parabéns aos ilustres autores pela capacidade de reunirem ventos para provocação de uma discussão útil a sociedade Moçambicana. E digo mais, há possibilidade de um terceiro caminho, OS MEIOS DE COMUNICACAO SOCIAL Vs FENOMENO LINCHAMENTO, rs.
Um forte abraço
AHunguana
Maputo 060707
ahunguana@udm.ac.mz
PS. texto não revisto linguisticamente.

 
Às 9 de julho de 2007 às 12:07 , Anonymous Anônimo disse...

Caro A. Hunguana,

Agradecemos profundamente o seu belissimo comentario ao nosso texto preliminar.

Relativamente as questoes que coloca, gostaria de dizer o seguinte:
Que este e um texto sobre um estudo em estudo, como sabe, estudar linchamentos nao e tarefa facil pela natureza do fenomeno. Entretantro, permita nao concordar com a sua tese da distancia entre os agregados familiares (AF) nos bairros como factor principal. No centro da cidade as distancias sao tao curtas mas as realizadas sao outras..., embora eu nao conheca a regiao do Muedumbe (espero ter escrito correctamente) em Cabo Delgado, bem distante de Pemba, sabe-se que em 2002/2003, um numero significativo de pessoas foram linchadas em resultado de problemas causados por leoes que devorava pessoas continuamente..., creios que a densidade demografica desta regiao, mesmo desconhecendo, nao deve ser igual a de T3 por exemplo...o que relativisa a tese que propoe.

Quando no texto referimos as condicoes locais incluindo a questao da renda (comentada no seu ponto 2), nao colocavamos estes factores como explicadores dos linchamentos (embora conjugados possam se-lo) mas sim como contextualizadores da realidade local.

quando referimos que os linchamentos sao moralmente maus, nao estamos a julgar em si os actos praticados, ate porque essa nao e a nossa funcao, apenas, tal como tambem reconhece nos seus comentarios (ponto 5 e 6), queremos dizer que trata-se de um fenomeno que nao deveria ocorrer cuja origem importa estudar, pois, as pessoas nao sao naturalemente mas para queimarem vivas outras pessoas, significa que se trata de algo grave e que merece uma analise aprofundada, razao pela qual abracamos este estudo.

Coloca uma pergunta interessante quando questiona o que as pessoas ganham com esta pratica. Contudo nao concordo quando refere que esta leva a um outro lado da questao. Julgo que a pergunta que coloca conduz-nos a mesma preocupacao, de perceber a razao dos linchamentos, portanto nao estamos em caminhoa diferentes mas sim no mesmo caminho com perguntas aparentemente diferentes.

Relativamente as questoes juridicas que coloca, permita que lhe convide par o nosso seminario do dia 18 do corrente na Faculdade de Medicina, pois, um dos nossos colegas ira desenvolver essa tema...

Mais uma vez obrigado pelos comentarios e aguardo tambem pelo seu precioso comentario a estes comentarios, para tornarmos o debate mais fluido...

Teles.

 

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